Índios chamados Tapuia ou nômades chefiados por Janduí
Naquele
mundo cheio de pedras, serras semi-áridas, garranchos, vales e rios
secos ou sazonais, habitado por gente de grande resistência, alegre,
feliz, amiga e hospitaleira – tivemos um acontecimento que se projetou
em toda a Europa: a festa ou ritual3 da passagem, realizada pelos índios
Tarairiú, em junho de 1647, ali reunidos pelos seus caciques chefiados
pelo maioral Janduí.
No “seu altar para
os céus”4 – a serra Macaguá, atual Serra de Santana, os indígenas
reuniram-se numa “aresta estreita e comprida, que mede, aproximadamente,
10 quilômetros por 1.500 metros”5 – onde estavam preparando as suas
festas, no final de junho, sob todo o rito selvagem, através da bebida,
comida e também da antropofagia com respeito e admiração pelos seus
valores humanos vivos e mortos.
Aquele
local não pode ser outro, a não ser onde, atualmente, localiza-se o
açude Marechal Dutra – ex-Gargalheiras, município do Acarí, desmembrado
de Caicó, da antiga região do Seridó6 – por onde viviam os índios
chamados Tapuia ou nômades chefiados por Janduí e outros caciques
valentes, poderosos, corredores e destemidos.
As
estimativas são de que 3 a 5 mil índios – mulheres, homens e crianças
tapuias foram participar daquela festa7 ou Toré, em nome do deus Taúba,
com atos e cerimônias de partos, mudança de idade, união conjugal,
danças, cantos, corridas do tronco, bebidas e alimentos durante várias
noites, queima de fogueiras, morte e nascimento de crianças, cura de
doentes, além do canibalismo próprio dos índios Tarairiú.
Naquela
oportunidade, certamente o rio Acauã – já estava com muita água
pluviométrica, a qual fazia um espelho sob a claridade da lua, enquanto o
clima era frio, levado pelo vento norte que assanhava os cabelos
longos8 dos índios e levantava as folhas que cobriam o corpo das
mulheres.
Parece que nada foi feito neste
sentido, pelo menos, no Rio Grande do Norte, menos ainda na região
Nordeste ou no Brasil – considerando o valor9 cultural, antropológico,
histórico e, também sociológico para todo o país, como fator de
reconhecimento em torno de nossas origens.
Os
indígenas do Rio Grande, com sua beleza natural e seus feitos culturais
– continuam esquecidos e abandonados, desde o período colonial, pelos
artistas da terra, a exemplo10 do que tem ocorrido com as demais
categorias sociais, em decorrência da ação separatista de uso e abuso
comuns.
O monumento da Serra Macaguá foi
publicado em Paris - 1651, pelo filósofo e historiador francês Pierre
Moreau, depois de haver consultado o original das Relações de Viagem,
escrito com falhas e erros, em 1647 pelo representante dos holandeses
junto aos índios, Rodolfo Baro. 11
Moreau
ganhou fama e prestígio em toda Europa iluminista com a divulgação do
seu trabalho referente às festas dos índios Tarairiú na Serra Macaguá,
vez que naquela época a cultura européia estava voltada para os
acontecimentos das viagens pelo Novo Mundo, especialmente no tocante aos
povos indígenas que causavam admiração12 aos civilizados.
Naquele
mesmo ano – 1647, o holandês Gaspar Barléo, ao publicar o livro da
história do governo flamengo no Brasil, com Maurício de Nassau, deixa de
mencionar os relatos da viagem de Baro aos Tarairiú, exceto as palavras
“um certo Baro” que prestava serviços ao governo da Holanda no Brasil.
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